Me diz,
como não se render,
como suportar,
como se reerguer
quando tudo acabar.
Me diz,
quando não sobrar mais nada,
de onde tiramos forças,
inventamos rumos,
reescrevemos rotas
arrumamos prumo,
para seguir com sutileza pelo mundo.
Me olhe, me encare
E sem piedade detone,
todas as minhas certezas,
meus lugares comuns.
Resete-me!
Opa...
olha só aquele antigo sentimento, aqui, em meu peito.
Me espia, me olha meio desconfiado.
Será que ainda sou o mesmo?
Será que algo não se rompeu, nestes tempos de ausência?
Teria algo em mim falecido, nesse inverno de silêncio, em tantos gritos sufocados?
Olha lá aquele sentimento brincante.
Incomodando as quatro paredes do estômago,
Insistindo em me dizer: "não acabou... ainda há mais por vir. Mas é preciso chacoalhar a poeira, não se render. É preciso olhar nos olhos da rotina e dizer, com determinação: FODA-SE."
Olha aí ele me entortando os rumos.
Quebrando novamente os protocolos,
encerrando ciclos, reabrindo caminhos,
cumprindo missões, reencontrando os espinhos,
que alfinetam meu coração.
Olho-me aqui, no espelho.
E no fundo do espelho dos olhos,
no âmago da alma,
há um bichinho implorando por um novo grito
que assevere minha independência,
que corte corações por vingança,
que arrebate os sorrisos canalhas,
que reescreva sincero, com lápis de qualquer cor, que a dor que a gente sente, merece sempre ser respeitada.
O grito é ensurdecedor.
Me enlouquece.
E ninguém mais pode ouvi-lo.
O grito ecoa, profundo,
reverberando timbres revolucionários,
nas janelas da consciência,
até romper a razão
e lançar-me em espiral pelo espaço.
Continuo a espera, de um sinal que me derrube as lágrimas que me inunde o peito que me encha de vida
Continuo a vida esperando
Continuo a vida esperando
Sigo a sina da dura rotina De achar outra rima De brotar poesia Na terra que a desilusão salgou
Espero dos céus um sinal de fumaça um telefonema, um e-mail, um scrap Qualquer coisa me faça chorar Que rompa essa frieza dura Dos dias em vão sem amar