domingo, 24 de outubro de 2010

Revolta

Tá aí
a revista moralista, traz uma lista dos pecados da vedete, do governo, do sistema.
sem solução.

A vida está sem solução?
Só nos cabe partir para a solução egoísta, individualista?
Só nos cabe o ódio?
Só nos cabe reclamar, calados, num confortável sofá comprado a prestação?

Chega de depressão.
Vem comigo.
Ignore esta merda toda.
Ignore quem te puxa pra baixo.
Abomine, também, a inveja e o racismo.

Levanta a cabeça, nego!
Olha adiante, a vida te desafiando.
E você com essa força toda,
acomodado, de cama.
Levanta a cabeça, truta!
Quem só chora, não mama.
E quem precisa mamar, hoje só pode chorar.

Vai ficar aí?
De canto vendo a história surgir?!?
vendo o mundo desmoronar...
Vai aguentar calado, aquilo que te indigna?
Vai apontar os erros, sem saber que quem julga é o primeiro a errar?

E você, mané?
Correndo aí atrás do seu...
correndo atrás de uma vida melhor.
Não esqueceu de algo pelo caminho?
Esqueceu que você não o que é, sozinho?
Vai abortar a responsabilidade?
de pensar maior...
além de seu mundinho pequeno.
além da sua vida irrelevante e medíocre.

Vai?
Assim?
Sozinho? ou pouco e mal acompanhado?
enquanto a maioria come o pão que o diabo amassou...
enquanto o ódio prolifera nas ruas, favelas, nos guetos.

Vai fingir que a vida não te dá uma enorme vontade de chorar?
Vai fingir que a revolta não toma conta do seu peito, seus braços?
Que não quer virar os carros numa segunda-feira de chuva, ou de sol,
em que a vida te pede paixão e te exige razão,
diante de cada injustiça, aprovada em cada silêncio hipócrita,
aprovada em cada operação bancária
cada voto racista
cada escolha ignorante, cada opção preguiçosa pela ignorância.

Vai fingir?
Que o problema tá só nos outros?
Vai fingir que não é com você?
Que você não faz parte de tudo isso?
Que você pode se eximir?

Ledo engano.
E minha enorme revolta,
diante de seu ledo engano.

Imprevisível

Numa noite qualquer,
afogado num copo de um destilado qualquer
sentindo paixão
sentindo.

Procurando, incessantemente, a inspiração
Deixando-a escapar
sentindo ódio
sentindo rancor
sentindo.

Com o olhar perdido...
perdido em conforto, lágrimas e amor
mas acima de tudo perdido
porque sei que a vida não é saber aonde ir
porque sei que não sou eu quem dá o tom
nem o ritmo da dança
porque sei que tudo pode estar por um fio
e mesmo assim
preciso apostar no mínimo de segurança que tenho.

Sentindo frio
Sentido fome
Triste
E além de tudo,
feliz pelo que o imprevisível me reserva.

Pelo que se foi,
e do que sinto saudade
e pelo que ainda há de vir,
pelo que não posso prever nem controlar.

Hoje,
com alguma maturidade, talvez...
olho a vida e toda sua imprevisibilidade
olho o que posso
o que conquistei
e sinto apenas
unicamente e apenas
uma grande vontade de viver
ainda mais do que já vivi,
mas do meu jeito
aproveitando cada segundo
de emoção ou de ócio.

Seguindo
com os olhos cheios de lágrimas
alguns buracos no peito
várias, muitas, cicatrizes
sabendo que hei de voar
e me esborrachar na terra
que hei de sentir a glória
e noutro dia a vergonha.

E noutro dia, o prazer e a dor de outro dia.
Até esgotar-me,
e chegar ao fim
Como todo poema há de chegar
com todos seus defeitos risíveis
sem glória
sem palmas
e talvez,
com algumas lágrimas suspeitas.