quarta-feira, 16 de abril de 2008

Até quando?

O poeta sabe o que importa.
Sabe o que faz sentido.
Desfaz-se das letras mortas.
Bate e rebate, seu peito doído.

Prefere a libertação.
Escolhe o lirismo dos bêbados.
Desfere golpes com os dedos.
Fere o próprio coração.

O poeta desfez-se das coisas mortas,
Que alguns cultivam por todo o canto.
Rompeu o horizonte, janelas e portas.
Rompeu o silêncio com um doce canto.

O poeta quer carros, jóias, mulher?
Jamais seria tão tolo. Nem seria poeta!
Busca aquilo que a vida não quer.
Não acerta o alvo, deseja ser seta.

O poeta está farto,
Da realidade mesquinha e grosseira.
O poeta cansou-se,
De jornais, tvs, baboseira.
O poeta mudou-se,
E foi atrás de uma outra visão.
O poeta é um fato
Que contra-argumenta com o coração.

A Natureza lhe chama,
Ele abandona a cidade cinzenta.
A Natureza reclama,
Morrer de morte tão violenta.

E enquanto os prédios sobem...
Seus sonhos voam mais alto.
E enquanto os carros se movem...
Seus pés traçam um novo salto.
E enquanto o mundo gira...
Você está aí parado.
Enquanto a vida expira...
Você espera sentado.

Até quando???
Até quando vai morrer pelo alvo, a meta?
Sem saber que a vida é percurso, é seta...
Até quando???

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Entrelinhas

Eu preciso viver de poesia, alegria.

Eu preciso.

Porque senão, a vida empaca,

estanca.

Porque senão, a vida é torta,

é manca.


Dia sim, dia não,

renovo meus motivos pra chorar,

pra sorrir.


Dia sim, dia não,

renovo meu desejo de sonhar,

sentir.


Dia não, dia sim,

Morre e nasce o que morreu em mim.


Dia não, dia sim,

Recomeça o que chegou ao fim.


É claro, é óbvio.

A vida é cíclica.

Saber entender isto,

mais do que uma simples premissa racional,

um simples ditado,

é que demanda muita sabedoria,

muita alegria seguida de dor,

muita aflição remoída.

Ansiedade, felicidade,

frustração reprimida.

Desilusão, paixão,

Ruas sem fim e sem saída.

Vagar sem rumo, sem norte,

perder o prumo, a pose e a classe.

Ganhar no azar, perder na sorte.

Rogar aos céus que o tempo pare, passe.

Chorar e rir, ser fraco e forte.


O dia termina, o dia recomeça,

os dias passam sem pedir licença.

A barba cresce, aumenta a pressa,

em sentir que a vida vale a pena.


De nada adianta, porém, a minha angústia.

De nada adianta rezar e implorar.

A vida vai continuar a seguir

e o melhor que posso fazer, é sorrir.

É chorar.

Sabendo que não importa, no fundo, o sentimento.

O que importa é que ele seja intenso.

Oscilar entre dois extremos,

abandonando meias palavras,

panos quentes.

Abandonando minhas máscaras,

libertando-me das correntes.


O que me importa,

é derramar lágrimas de verdade,

Não sorrir de pura hipocrisia.


O que me importa,

é um abraço de saudade

e não o peso da melancolia.


O que eu quero, enfim

é ser autêntico.

Respeitar o meu momento,

minha alegria, sofrimento.


Respeitar o sentimento

que morre e brota em mim.

Viver a vida, é mais fácil assim.


Esquecendo que ela um dia termina.

Esquecendo do status, grana e fama.

Olvidando a pressão por sucesso.


Viver a vida, é libertar-se disso tudo

e da pressão de tornarmo-nos o que não queremos ser.

E nestes momentos, de fugaz liberdade

Eu posso afirmar.

Que sou feliz.

Que me sinto vivo.

Que desejo todas possibilidades,

novo, velho, criativo,

Velho, novo, aprendiz.

Sem medo da novidade.


Assim, porque a vida é assim.

Novidade, imprecisão, anti-rotina.

E não sou dono do meu nariz,

(ainda que assim deseje).

Eu não sou dono do meu destino,

nem posso ser tão arrogante,

querer controlar todas as variáveis.

Não sou senhor do passado, do futuro.

Decido apenas pelo meu presente,

o maior presente deste mundo.


Otimismo exagerado???

Fatalismo???

Só se em algum ponto destas linhas

Não entendeste do que falo.

Se em algum lugar, nas entrelinhas

Não captaste o que não digo.


Triste seria,

querer resumir tudo em palavras.

O silêncio ainda é mais importante.

E neste momento,

lhe darei lugar...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Merda minha.

Olho ao redor
As pessoas estão na merda.
Pessoas assitindo merda.
Empanturradas de merda.
Pessoas falando merda.
Repetindo merda.
Merdas empurradas goela abaixo
de pessoas com cabeça de merda.

Escatológico, sim! Um grande cocô!

Merda por merda,
prefiro as merdas que falo,
as bostas que penso,
as merdas que faço,
meu viver intenso.

Merda por merda,
prefiro as bostas que calo,
os sapos que engulo,
as regras que cago,
meu poema chulo.

Minha merda, pelo menos, é merda minha,
Da merda das minhas idéias.
E não das idéias de merda,
que se vê por aí!

Minha merda, pelo menos, é merda pura.
Ainda que não seja limpa,
Ainda que não seja dura,
Ainda que não seja linda,
Ainda que não seja escura.

Cagar letras num papel
Borras as teclas do teclado
me alivia.
É prerrogativa de todos, necessidade minha
Direito sagrado,
do cú do aposentado,
à bunda da criancinha.

Mas minhas fezes,
na maior das vezes,
buscam ter consistência.
Mesmo meus gases,
Na pior das fases,
Tentam ter coerência.

Não como merdas, de outros merdas, por aí.
Sem recheio, mira ou meta a atingir.
Merdas que enchem nossa cabeça de bosta.
Fezes sem teses,
que a imensa maioria gosta.
Bosta sem proposta,
que a imensa maioria bebe. E ri!

Merda por merda.
Minha merda, pelo menos, é merda minha!