quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Coração abusado - razão pra sentir

Durante muito tempo, acreditei piamente ser um ser racional, ou predominantemente racional. Minha vida, então, era orientada por essa falsa crença. Observava situações passadas e massacrava minhas atitudes ou minha falta de atitude, depositando a culpa de muitos insucessos na excessiva racionalidade, que me impedia sentir.


Levei mais de 24 anos de vida, algumas sessões de terapia e suas avaliações para perceber o contrário. Meu lado mais desenvolvido era justamente o lado emocional, que eu tentava, em vão, libertar. Se tal descoberta não chegou a ser traumática, reorientou a interpretação de várias situações vividas anteriormente. Aquela culpa por meus insucessos que, injustamente, eu atribuía à minha racionalidade, não tinha mais razão de ser.


Descobri que tinha um coração abusado. Um lado emocional mais forte e mais maduro do que eu mesmo imaginiva. E essa consciência me fez explorar novas possibilidades. Descobri meu lado racional deficiente, ao menos em alguns aspectos, e passei a estimular seu desenvolvimento.

Mas o coração abusado sempre bateu mais forte. E por bater tão forte, muitas vezes apanhou da vida, que revida. E por bater tão forte, orientou muitas decisões certas e erradas.


Por ser tão abusado, nunca precisou de razão pra sentir.


Isso não significa que fico por aí a chorar sem motivos. Mas quer dizer, sim, que choro por motivos fúteis, bestas, tolos, ao menos aos olhos dos corações racionais, incapazes de compreender minha emoção sem razão. É verdade, sim: eu preciso de menos razão pra sentir, o que faz do meu coração um órgão irracionalmente razoável. Um coração que abusa da faculdade de sentir e que é freqüentemente abusado, usurpado, por aqueles que lhe enrolam e iludem por quaisquer razões, mesmo que fúteis, tolas, bestas. Abusam do meu coração, como se tal fosse razoável.


E isso me faz perguntar: serei eu então, o irracional? Serei eu, então, o pouco razoável? Devo eu, mudar? Ou vivo feliz por sentir, ainda que as mais diversas razões me levem aos extremos da alegria e do sofrimento, mesmo sem razão aparente?


A dúvida é pertinente. E a razão não é a única capaz de lhe oferecer resposta.

A dúvida é permanente. E não vai se dissipar enquanto houver coração pra sentir.


Perdoem, caros leitores...

"Se o quadradismo dos meus versos,

vai de encontro aos intelectos,

que não usam o coração,

como expressão."

(Você Abusou – Antônio Carlos e Jocafi)


sábado, 23 de fevereiro de 2008

Incoerências

Não há inspiração,
não há,
para arrancar-me do peito aquilo que há de mais profundo,
todo amor e ódio do mundo,
não há.

Não há sorriso capaz de receber,
toda a alegria que sinto.
Não há pessoa capaz de entender,
todo sentimento que omito.
não há.

Haverá alguma forma ou sentido,
algum jeito de aliviar esse peito doído,
o coração latejante, batido?

Haverá lágrima que concentre tanta emoção,
minha insatisfação,
meu medo,
meu carinho,
meu beijo sem dono?

Haverá de ser um lágrima pesada,
água suja, triste e abortada?
Uma lágrima que não sai de mim,
que oprime minha pobre risada,
que enverga minhas costas cansadas.
Uma lágrima que não sai de mim,
gota de uma tonelada.
Uma lágrima feia, incolor, dolorida
Colorida por tintas borradas.
Por manchas de dores distintas,
uma lágrima não derramada.

... Pausa para um respiro ...
... Tempo para um choro contido ...
... E retomamos ...

Terei eu tanta e tamanha compaixão,
de me aceitar em minha própria incoerência?
Serei eu, capaz e sábio e um tanto tolo,
de aceitar em mim a minha diferença?

Ou serei eu um tolo, tonto e intolerante?
Incapaz de me contradizer amante?
Incapaz de me desmanchar em sonho,
um cara, triste, bobo, chato e enfadonho?

Haverão braços, que recebam este abraço?
Haverão?
Haverá boca para derramar meu mel?
Sequer um beiço que me alce ao céu?
Haverá?

Fico forte, fico frágil - inconsistência.
Em conflito com a própria consciência.
Detono e engulo esta explosão, todo o momento,
Reprimo a raiva, o grito, o choro e o sofrimento

Ela está aqui,
está viva dentro de mim,
preciso deixá-la para trás,
preciso deixá-la sair,
a gota inunda meus olhos,
mas não cai.

O peito insinua um sentimento,
escrevo uma linha torta,
o choro me bate à porta,
mas não sai.

Haverá quem escute esse pranto contido,
do fundo de um quarto de hotel?
Não há!
Faz frio lá fora,
E neva no meu coração.
No mau tempo, não posso voar.
Mas o dia haverá de raiar...
Haverá?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Notícia do Dia - Buratti e Palocci: o quanto custa

O quanto custou a liberdade desse senhor?
Quanto lhe custou para retratar-se das denúncias?
O fato é que, além dos custos emocionais (a que me refiro) que com certeza lhe foram cobrados, fica a desconfiança de toda a sociedade, quanto aos motivos da presente retratação.
 
Se for verdadeira, ela simboliza justiça à alguém acusado injustamente, indicando um grave problema de coação do MP e da Polícia.
 
Se for falsa, representa a completa desmoralização.
 
Mas isso, nós mortais jamais vamos saber.
No dia em que explode a notícia de que Fidel renunciou, deixo o destaque para a novela de bastidores.
 
 
Buratti recua e registra em cartório depoimento que inocenta Palocci

Empresário retira tudo que disse em 2005, perante CPI e força-tarefa,passando de algoz a aliado do ex-ministro

Fausto Macedo

O trunfo secreto do ex-ministro Antonio Palocci está sob custódia de um tabelião de notas em São Paulo. Trata-se de documento de 128 linhas distribuídas em quatro páginas de um volume capa preta, o livro 2.713.

É uma escritura de declaração, na prática a retratação de Rogério Tadeu Buratti, advogado, empresário, 45 anos, testemunha-chave do Ministério Público e da polícia no cerco ao ex-ministro da Fazenda do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Buratti, antes algoz de Palocci, virou seu aliado.

Retirou tudo o que afirmou em 19 de agosto de 2005, sob as formas e advertências da lei, perante seis promotores de Justiça e um delegado de polícia graduado. Também desdisse o que declarou à CPI dos Bingos.

Em todas essas instâncias, ele fustigou Palocci, a quem imputou desvios, fraudes, envolvimento em esquema de propinas. Fez as acusações "de livre espontânea vontade", conforme consta do seu depoimento formal à polícia.

Agora, Buratti isenta e inocenta o ex-ministro, hoje deputado federal pelo PT de São Paulo, de toda e qualquer irregularidade. Inclusive da responsabilidade pelos contratos do lixo que teriam sido superfaturados no gestão de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP).

Estimativa do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado, braço do Ministério Público que investiga casos de corrupção, aponta rombo de R$ 30 milhões - valor relativo a medições falsas de coleta e varrição - nos cofres públicos do município, que Palocci administrou em duas ocasiões. O segundo mandato ele cumpriu pela metade, de 2000 a 2002, quando deixou o cargo para assumir a coordenação da campanha de Lula à Presidência.

'INVERÍDICAS'

"São inverídicas as condutas atribuídas ao ex-ministro Antonio Palocci Filho", declara Buratti, por escrito. Ele recua categoricamente da denúncia sobre o mensalão de R$ 50 mil, quantia que, segundo afirmou à polícia antes, era repassada a Palocci pela Leão & Leão, empresa contratada para coleta de lixo. "Não é verdade que a Leão & Leão deu contribuição mensal, no valor de R$ 50 mil, ao prefeito Antonio Palocci Filho ou ao falecido secretário da Fazenda Ralf Barquete, para que o dinheiro fosse repassado ao Diretório Nacional do PT, ou para qualquer outra finalidade", assinala o empresário.

A nova versão de Buratti foi registrada em cartório extrajudicial, a 28 de junho de 2007 - 22 meses depois das acusações feitas ao ex-ministro.

Suas declarações são agora a peça crucial da defesa de Palocci e estão a caminho do Supremo Tribunal Federal (STF), instância máxima da Justiça, que analisa denúncia do Ministério Público contra ele. O ex-ministro detém prerrogativa de foro porque é parlamentar.

O relato de Buratti pode enfraquecer a tese central da promotoria porque era ele o ponto de partida da ofensiva contra Palocci e a base da acusação.

"A delação do Buratti teve peso decisivo na investigação", avalia Benedito Antonio Valencise, delegado-chefe da Seccional de Polícia de Ribeirão Preto, que presidiu o inquérito do lixo. "Graças ao depoimento dele, estouramos todo o esquema. Pelo caminho que o Buratti deu chegamos lá."

DUAS FASES

Buratti dividiu em duas fases sua retratação.

Na primeira, faz críticas à promotoria. Alega ter sido humilhado, "moralmente destruído, desmoralizado diante dos filhos e familiares".

O tabelião registra no documento: "Preocupado com a saúde de sua mãe, submeteu-se à vontade dos representantes do Ministério Público e da polícia, concordando com suas exigências para poder livrar-se das suas ameaças, que eram concretas, e daquela situação humilhante e constrangedora".

Afirma que "o estado de coação" continuou após o interrogatório policial e durante seu depoimento à CPI dos Bingos, "fazendo com que o declarante fosse tomado de pânico, temendo nova prisão diante das câmaras de televisão que transmitiam o evento para todo o País".

"Que sucumbiu diante das pressões e, contrariando orientação do seu advogado, submeteu-se à delação premiada, em troca da sua liberdade."

O segundo capítulo do documento preenche 13 linhas e é dedicado à reparação. "Nunca ouviu de Ralf Barquete a afirmativa no sentido de que este tenha recebido qualquer importância, com ou sem autorização de Palocci, também não sendo verdade que qualquer quantia tenha sido paga pela empresa referida anteriormente a Ralf Barquete a qualquer título durante a gestão de Palocci, por indicação deste último", acentua.

 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O novo - Entrevista com Manuel Castells

O novo atropela o velho.
Algo grande está acontecendo.
Maior do que imaginamos.
Algo que me parece bom,
ainda que possa estar enganado.
Uma nova sociedade parece estar surgindo
E nosso papel,
é viabilizar seu acontecimento.
Destrancar sua potencialidade.
E empoderar as pessoas para serem felizes neste novo cenário.
Proibições, restrições, são mal quistas, indesejadas.
O que interessa, hoje, é mais liberdade e autonomia,
que o diga Castells, cuja entrevista vai copiada abaixo.
 
 
Ps: Manuel Castells desempenha um importante papel, como sociólogo, na interpretação da sociedade da informação que tem se desenhado.
 
Para compreendê-la, vale a leitura de sua densa trilogia "a sociedade em rede".
 
Liberdade e autonomia
Manuel Castells - Entrevista concedida a Milagros Pérez Oliva / El País
18.02.2008
  

Manuel Castells é um dos sociólogos internacionais que mais estuda a sociedade da informação. Sua trilogia A era da informação: economia, sociedade e cultura já foi traduzida para 23 línguas. Depois de ter lecionado por 24 anos na Universidade da Califórnia, em Berkeley, desde 2001 ele dirige o departamento de pesquisa da Universidade Aberta da Catalúnia. Seu estudo mais recente chama-se Projeto Internet Catalúnia. Durante seis anos, por meio de 15 mil entrevistas pessoais e 40 mil via internet, Castells analisou as mudanças que a internet produziu na cultura e na organização social. O pesquisador acaba de publicar, com Marina Subirats, a obra 'Mulheres e homens: um amor possível?', onde aborda o impacto da web. Nesta entrevista concedida ao Jornal El País, Castells revela os principais pontos da pesquisa.

*

Esta pesquisa mostra que a internet não favorece o isolamento, como muitos acreditam. Pelo contrário, ela revela que as pessoas que usam, por exemplo, as salas de bate-papo são as mais sociais.
Manuel Castells
– Exatamente, o que para nós não é nenhuma surpresa. A surpresa é que esse resultado tenha sido recebido com espanto. Há, pelo menos, 15 estudos importantes no mundo que revelam o mesmo resultado.


Por que acredita-se exatamente ao contrário?
Manuel Castells - Os meios de comunicação tem muito a ver com isso. Todos sabemos que, para a mídia, o que é mais notícia é a notícia negativa. Você utiliza a internet e seus filhos também. Mas é mais interessante acreditar que ela está cheia de terroristas, de pornografia... Pensar que ela é um fator de alienação é mais interessante do que dizer que a web é a extensão de nossas vidas. Se você é sociável, será mais sociável. Se não é, a internet lhe ajudará um pouquinho, mas não muito. De certa forma, os meios de comunicação expressam o que a sociedade pensa. A questão é: por que a sociedade pensa assim?


Por que tem medo do novo?
Manuel Castells - Exatamente. Mas medo de quem? A velha sociedade tem medo da nova. Os pais dos seus filhos. As pessoas que têm o poder ancorado num mundo tecnológico, social e culturalmente antigo do poder que pode destabilizá-las, do poder que não entendem, controlam e que percebem como perigoso. A internet é um instrumento de liberdade e de autonomia. O fato é que o poder sempre foi baseado no controle das pessoas, por meio do controle do acesso à informação e à comunicação. Mas isto, com a web, acaba. A internet não pode ser controlada.


Vivemos numa sociedade onde a gestão da visibilidade na esfera pública midiática, como define John J. Thompson, se converteu na principal preocupação de qualquer instituição, empresa ou organismo. Mas o controle da imagem pública requer meios que sejam controláveis. Mas nesse sentido, e se a internet não é ...
Manuel Castells – Não, não é controlável. E isso explica porque os poderes têm medo da internet. Participei de várias comissões que assessoravam governos e instituições internacionais nos últimos 15 anos. A primeira pergunta que os governos faziam era: como podemos controlar a internet? A resposta é sempre a mesma: não se pode. Pode se vigiar, mas não controlar.


Se a internet é tão determinante na vida social e econômica das pessoas, seu acesso pode ser o principal fator de exclusão?
Manuel Castells - Não. O mais importante ainda é o acesso ao trabalho e à carreira profissional, bem como o acesso à educação. Sem educação, a tecnologia não serve para nada. Na Espanha, a chamada exclusão digital é uma questão de idade. Os dados são bem claros: entre os maiores de 55 anos, somente 9% são usuários da internet. Mas entre os menores de 25 anos, 90% navegam regularmente.


O acesso integral é, portanto, uma questão de tempo?
Manuel Castells - Quando minha geração desaparecer não haverá mais esta exclusão digital no que diz respeito ao acesso. Mas na sociedade da internet, o complicado não é saber navegar, mas saber onde ir, onde buscar o que se quer encontrar e o que fazer com o que se encontra. Isso requer educação. Na realidade, a internet amplifica a velha exclusão social da história: que é a educação. A verdadeira exclusão digital é o fato de que 55% dos adultos não tenham completado, na Espanha, a educação secundária.


Nesta sociedade que tende a ser tão líqüida, na expressão de Zygmunt Bauman, em que tudo muda constantemente e que é cada vez mais globalizada, o senhor acredita que a sensação de insegurança vem aumentando?
Manuel Castells - Há uma nova sociedade que busquei definir teoricamente com o conceito de sociedade-rede e que não está distante da que define Bauman. Creio que, mais que líqüida, é uma sociedade em que tudo está articulado de forma transversal e onde há menos controle das instituições tradicionais.


Em que sentido?
Manuel Castells – Admite-se a idéia de que as instituições centrais da sociedade, o Estado e a família tradicional já não funcionam. Então, o chão se move sob os nossos pés. Primeiro, as pessoas pensam que seus governos não as representam e que não são confiáveis. Começamos mal. Segundo, elas pensam que o mercado é bom para os que ganham e mau para os que perdem. Como a maioria perde, há uma desconfiança para o que a lógica pura e dura do mercado pode proporcionar às pessoas. Terceiro, estamos globalizados. Isso significa que nosso dinheiro está no fluxo global que não controlamos, que a população está submetida às pressões migratórias muito fortes, de modo que é cada vez mais difícil aglutinar as pessoas numa cultura ou nas fronteiras nacionais.


Qual é o papel da internet neste processo?
Manuel Castells - Por um lado, ao nos permitir acessar toda informação, ela aumenta a incerteza, mas, ao mesmo tempo, é um instrumento chave para a autonomia das pessoas, e isto é algo que demonstramos pela primeira vez na nossa pesquisa. Quanto mais autônoma é uma pessoa, mas ela utiliza a internet. Em nosso trabalho definimos seis dimensões de autonomia e comprovamos que quando uma pessoa tem um forte projeto de autonomia, em qualquer uma dessas dimensões, ela utiliza internet com muito mais freqüência e intensidade. E o uso da internet reforça, por sua vez, a sua autonomia. Mas, claro, quanto mais uma pessoa controla a sua vida, menos ela se fia nas instituições.


E maior então pode ser a frustração da pessoa pela distância que há entre as possibilidades teóricas de participação (o voto, por exemplo) e as que exerce na prática?
Manuel Castells - Sim, há um descompasso entre a capacidade tecnológica e a cultura política. Muitos municípios colocaram Wi-Fi de acesso. No entanto, se ao mesmo não são capazes de articular um sistema de participação, servem para que as pessoas organizem melhor as suas próprias redes, mas não para participar da vida política. O problema é que o sistema político não está aberto à participação, ao diálogo constante com os cidadãos, à cultura da autonomia. Portanto estas tecnologias contribuem para distanciar ainda mais a política da cidadania.


* Tradução de Marcus Tavares, do Rio Mídia (http://www.multirio.rj.gov.br/riomidia/).

 
 
 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Vai

Lá vai ele, perambulando...
Vai cheirando todas as flores, espirrando de vez em quando. Vai rastejando pelos cantos escuros, vai de pé, pelos campos verdes, desfilando.

E ele vai, como todos vão. Vai bem, vai mal, vai de mal a pior. Mas melhora.
Ele vai e não quer ir em vão. Quer alcançar seus sonhos, objetivos. Um dia quer rir, noutro dia chora.

Mas vai atrás, tentando chegar na frente, ainda que não saiba na frente do quê, de quem. Vai na frente, volta de marcha ré. Dá um passo para trás, um salto adiante, mas as vezes esquece de seguir... e vai de marcha ré, ladeira abaixo, perde o rumo, o prumo e o norte. Desnorteia, desilude, culpa a sorte. Perde o rumo de casa, azarado. Perde a calma, entra em crise. Recupera a rédea e se esquiva da morte. Que forte!

Vai, vai vai... Mesmo sem saber aonde ir, nem mesmo com a pretensão de saber onde quer chegar.

Vai só porque a vida é feita no caminho, ainda que se possa planejar.
Vai, porque é ciente que não é senhor do destino.
Vai, intuindo, seguindo o instinto e o tino.

E volta, sabendo que nada do que foi irá voltar.
Volta em busca do novo, reviravoltará.
Retorna, entorna um copo, e torna a ir.
Cambaleando de tanto sofrer, beber, sorrir.

Ele segue no caminho, na estrada, na encruzilhada. Ele anda pelos dois lados da bifurcação. Se a vida é feita de escolhas, ele diz não. Se a vida é feita da sonho, ele diz sim. E segue por todos os caminhos, passando o tempo em voltas anti-horárias, andando sentido sentimento. E seu peito pulsa, porque nele vive o sentimento sentido.

Ele vai. Pode apostar!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Sobre Denilson, Luxemburo e o Palmeiras

Denilson chega com o status de um grande jogador.
 
Vestiu diversas vezes a camisa da seleção brasileira. Participou da Copa do Mundo 2002.
 
Chega também como um jogodar ineficiente, pouco objetivo, como um jogador em fim de carreira.
 
Mas conta com Luxemburgo e um time bem armado para recuperá-lo, nem que jogue só meio tempo.
 
Denilson é melhor que Luiz Henrique e William, juntos, agrega ao time
 
Denilson não é Adriano, não é solução para nenhum time. Mas Denílson também não é problema, chega "de graça" e para somar, motivado por contrato de produtividade.
 
No mais, é preciso apenas paz para que ele e Luxemburgo possam trabalhar. O treinador, aliás, tem sido diariamente atacado pela imprensa Paulista, apesar de demonstrar um comportamento bem mais tranquilo que o de tempos atrás.
 
Luxemburgo não é flor que se cheire. É flor que gera frutos, mas que se não for bem podada, desertifica o solo por que passa.
 
Da mesma forma como pode ser a Traffic.
 
O Palmeiras precisa de cuidado. Precisa aprender com os erros da "era Parmalat", para que, no futuro, a ausência de Traffic e Luxemburgo não seja um desastre para o clube.

Sentimento dos outros

Nós temos sentimentos,
ainda bem.
Todos nós,
ainda bem.

E no fundo de um peito encouraçado.
Bate um coração,
meio arrítmico,
meio doído,
meio sofrido.
Mas vivo, feliz.
E triste.

Por trás da pele branca,
um leve rubor,
um pouco de vergonha,
um sorriso lateral,
indicando alegria e desconforto,
indicando algo,
que por trás da pele branca,
apesar do rubor,
não é possível entregar,
é barco sem porto,
é impossível de desvendar.

Por trás da minha pele branca, morena,
Por trás também de cada pele preta.
Há um sorriso esperando ser aceito,
e um pranto pronto pra ser derramado.

Em cada sorriso.
Em cada par de olhos
e olhares.
De todas as cores.

De cada par de olhos,
escorrem lágrimas,
de todas as cores,
uma gota viva, feliz
E triste.

E seguimos dançando,
com uma beleza qualquer,
que não precisa explicação.
E o peito pulsando,
batendo pra não apanhar,
só por precaução.
E de punho em riste,
tentamos nos manter de pé no ringue da vida.
nem sempre ganhando,
nem sempre perdendo,
mas sempre de pé pra lutar.

Mas os outros também tem sentimentos!!!
E o que mais dói,
é não poder compartilhar,
o palpitar inseguro em meu peito.
E o que nos corrói,
não é um "não sentir"
mas nosso dissimular,
nosso fingir que está tudo bem,
quando o mundo desaba em nossas costas
quando o coração dispara,
e quase pára.

Mas os outros também tem sentimentos,
e não sou só eu que tenho vontade de chorar,
e de sorrir.
E ainda que cada um só faça se preocupar,
com seu próprio choro,
ou sorriso,
apesar de tudo,
apesar disso,
os outros também tem sentimentos,
e é isso que mais me encanta,
apesar de todos meus lamentos.

É o sentimento dos outros, afinal,
que mais me move nesse mundo,
o que quebra minha rotina,
o que liberta minha alma presa,
põe cores em minha retina,
desarma minha fortaleza.
Os outros também tem sentimentos, afinal.
Quem dera todo mundo tiveesse essa certeza.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

É carnaval!!!

Divertimento sem moderação.
Modo folia ligado.

E feliz 2008 para vocês também!

Desmotivado

Sem vontades,
eis que estou,
desmotivado

com os olhos no chão
sem flores nas mãos,
sem porto e nem barco.
Sem vontade, nem ansiedade,
nem dias contados.

É um vazio de sentimento,
e de palavras.
coração que não pulsa
buraco no peito,
veia sem sangue
Sem amor, nem repulsa,
mente cheia, de nada.

É carnaval, é folia,
mas e daí?
Querem que eu chore.
Querem que eu ria.
Eu nem aí.

Olho ao redor,
e parece que o mundo perdeu aquele ar mais puro.
aquela curiosidade.

Olho ao redor,
e parece que meu peito, eu mesmo, estou mais duro
sem piedade.

Olho a minha volta,
e tenho a certeza que o mundo dá voltas

Olho a minha volta,
e tenho certeza que a vida não volta.
Por mais que eu implore
que eu peça que pare.

O mundo dá voltas
O tempo passa
E me entristece um dia sem graça.

Por mais que eu saiba,
de tudo isso.
Eu fico triste, tristonho
A vida encalha
num reinício
suspenso, num sonho.

Agir, agir, agir,
é um verbo que não está no meu vocabulário.
pois estou sem motivo, sem motor pra partir
atrás de palavras, frases ou rimas
que alegrem o meu dicionário,
que incrementem meu repertório.

Sem motor pra partir.
Já é público. E notório.

Notícia do dia - O Senhor das Armas

Jobim,

de Ministro do STF, a Ministro da Defesa, a Senhor das Armas.

Jobim e Genro, segundo notícia da Folha, propõem reduzir os impostos para exportação das armas, para incentivar a indústria bélica.

Se fosse qualquer outro produto, eu até poderia concordar. Se o interesse de aumentar a venda de armas fosse visto como uma coisa estratégica (desenvolvimento tecnológico, segurança nacional), eu já ficaria "cabreiro", mas poderia até aceitar.

Mas quando observo que há um lobby da Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições (bonzinhos eles, não?), não dá para ter outra opinião que não seja achar a proposta absurda.

Num dia, anuncia-se que o número de homicídios em SP caiu 19,48%, em 2007, com relação a 2006. O sucesso é atribuído ao Estatuto do Desarmamento.

No outro, propõe-se cortes de impostos para exportar. Ainda que o mercado desejado não seja o mercado interno, não faz sentido. Até pensando em segurança nacional: pra que armar nossos vizinhos?

A notícia, vai abaixo.

Ministros querem fim de imposto para arma Jobim (Defesa) e Tarso (Justiça) defendem a extinção da tarifa de exportação para países da América Latina e Caribe

Segundo o Viva Rio, a maioria das armas antes exportadas para os países vizinhos voltava para o Brasil clandestinamente

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os ministros Tarso Genro (Justiça) e Nelson Jobim (Defesa) defendem, em documento, o fim do imposto de exportação de armas e munições para auxiliar a indústria bélica nacional. Tarso e Jobim formalizaram o apoio ao lobby das armas em 21 de dezembro, ao assinar o Aviso nº 35/MD, encaminhado ao colega Miguel Jorge (Desenvolvimento).
No documento, obtido pela Folha, os dois pedem a revogação do imposto de 150% sobre armas e munições vendidas pelo Brasil aos países da América do Sul e do Caribe -as vendas para Argentina, Chile e Equador não têm a taxa.
"Um grande esforço tem sido implementado para aumentar o volume das exportações, porém alguns óbices se interpõem a essa iniciativa, sendo um deles a resolução nº 17/Camex [Câmara de Comércio Exterior]", diz um trecho do documento.
O texto vai além e culpa o Estatuto do Desarmamento pelas dificuldades da indústria de armas no mercado interno. "A base industrial de defesa necessita dessas empresas e a publicação da lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003, restringiu ao máximo a venda interna, só restando a essas empresas a possibilidade de exportação."
Embora assinado por dois atuantes ministros, o documento contempla o inverso do discurso do governo. Seis meses depois de receber a faixa presidencial, Luiz Inácio Lula da Silva pregava a taxação do comércio internacional de armas para a criação de um fundo mundial de combate à fome.
Mais: ao divulgar o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, o governo citou a campanha do desarmamento como um dos fatores de redução das mortes por arma de fogo.
A indústria faz campanha contra o imposto e diz que o Brasil perdeu as vendas para América Latina e Caribe, um mercado de US$ 12 milhões. "[Derrubar a taxa] É uma reivindicação há muito tempo, prejudica a atuação do Brasil", reclamou Ricardo Alfonsin, assessor jurídico da Associação Nacional da Indústria de Armas e Munições. A organização também tenta derrubar o imposto na Justiça.
O coordenador do programa de controle de armas do Viva Rio, Antonio Rangel, foi informado do assunto pela Folha. Ele telefonou ao Ministério da Justiça e foi informado que Genro seria contra a derrubada do imposto. "Não sei a posição do Jobim, mas a impressão é que ele está bastante desinformado. O risco é muito grande."
Segundo o Viva Rio, a maioria absoluta das armas antes exportadas para os países vizinhos voltava para o Brasil clandestinamente.
A reportagem procurou as assessorias dos ministérios da Defesa e da Justiça desde terça. A Justiça nada respondeu. A Defesa prometeu que se pronunciaria semana que vem.
O item foi incluído na pauta da reunião da Camex na terça, mas foi retirado para análise técnica.