terça-feira, 23 de outubro de 2007

Frio

Escrito originalmente em Washington DC, num domingo, em 21 de janeiro de 2007

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Neve.

Faz frio de novo lá fora.

Será assim. Assim será. É inverno.

Recolho minhas folhas verdes e cultivo minhas raízes, minha estrututra.

Quero sair lá fora. Em casa é verão. Em casa é hora de quebrar a cara! Em casa é hora de se expor e buscar mais energia. Mostrar a todos minhas folhas verdes, minhas flores coloridas, refletir o sol.

Mas eu não estou em casa. Eu sei que não estou em casa, mas no meu peito há verão, há calor, há vida borbulhando, esfriando na frieza dessa neve, congelando no gelado desse povo gélido.

No meu peito, é verão. Mas aqui meu peito pulsa só, bate meio fraco, meio triste, meio torto.

No meu peito é verão, Mas aqui não há boca que receba meu sorriso, palavra doce que acaricie a minha alma, lábio que receba meu calor.

Aqui, não há dor que possa ser compartilhada. Minha dor dói fria, como o tempo lá de fora, que passa dolorosamente devagar. E que voa e me lança de um canto a outro sem pedir permissão. Que me leva à neve e ao fervor, de uma hora para outra, indolor, calorosamente.

Aceito a vida, então. Aceito que a sua regra seja sempre exceção, sempre distinta, sempre impressionante e espontânea, sempre viva. Aceito meus quiques em todos os cantos do mundo, com olhos atentos para o que cada canto me conta. Com coração aberto pra explodir em calor, com olhos curiosos de olhar tantos olhos diversos, tantas cores escondidas, de ouvido atento para tantas vozes sem nome, cheias de histórias que jamais serão minhas, que já são.

Histórias de cada um, afinal, a nossa história.

Aceito o que o destino me apresenta. Mas não sem lutar ferozmente pelo que julgo ser certo, pelo que julgo ser o melhor para mim. Não sem lutar contra mim, quando sou eu que quero meu mal. Isso eu não aceito.

No fundo, no fundo, eu só queria retribuir um sorriso. Lá no fundo, eu só queria um beijo doce e, em meio a tanto frio, um pouco de calor humano. Deve fazer verão, ainda que fora de época, em algum outro coração.

Quero me queimar. É isso que quero. Quero arder em brasa. Ai, que saudade de casa.

Um comentário:

  1. Ás vezes achamos que não tem ninguém olhando, ninguém lendo.
    Mas sempre tem!
    E sabe que ler o que você escreveu me deu vontade de começar de novo!
    De acordo com novas fases da vida, vêm novas vontades de se expressar. Acho que vou recomeçar!
    Abraço!

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