quinta-feira, 22 de novembro de 2007

... para quê? E um bom dia!

Para me sentir vivo.

Para fingir que a vida faz sentido.

Para lhe dar sentido

e para lhe sentir.


Para me espelhar, em algum canto.

Para eternizar um momento efêmero.

Para gritar, em algum canto.

Um grito sem voz, um choro sem pranto.


Só para me libertar.

Para ter certeza de que sou imprevisível.

Para prever,

Para sonhar o impossível.

Para mentir,

e achar que sou imprescindível.


Para virar, me revirar, me expor do avesso.

E refletir o meu brilhar que dói por dentro.

Para sentir a vida,

para lhe dar sentido.

Para dizer o avesso daquilo que eu digo mentindo.


Não para ser, nem sonhar ser,

o dono da verdade.

Nem para ser, espelho do sonho,

avesso da realidade.

Só para estar, em algum lugar, com algum ponto de vista.

Só para extravasar,

ora aqui, ora acolá,

o que meu coração conquista.

E que os olhos, que por aqui passam,

sintam-se, ao menos, um pouco mais sensíveis.

E que os peitos, que por aí pulsam,

Que por aí batem, apanham e infartam,

derretam só um pouco daquele conhecido gelo.

Que nosso olhar hipócrita e indiferente,

seja o oposto do nosso peito em chamas.

Que nosso coração incandescente,

Nos revele a contragosto o que a alma clama.


E que nada disso,

e tudo disso,

mude o curso do seu dia a dia.

Só para eu saber que existo.

Só para me dar sentido.

Só para me dar um norte.

Só pra me livrar da morte.


E que tudo e nada se misturem.

Revelando que, na verdade, lá no fundo,

esta é a exata dimensão da nossa miserável existência.

Que tudo e nada, se anulem.

Anulando nossa luta pra sobreviver,

Se eu estou só, não está certa, esta distância

Que se unam, pois, as línguas e bocas.

Que eu vire pó, que eu vire merda, excrescência.

Que adubemos nosso chão sob estas moscas.

E que tenhamos, todos, afinal, um belo dia.

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